Bem,
não são assim tão quentes, e nem serão assim tão boas, mas há que criar um
certo drama, antes de recomeçar.
Bem,
a modos que ando particularmente cínica mas, graças a Deus, consigo travar a tempo
os pensamentos que estão prestes a sair boca fora, e aqui vão alguns deles:
- uma rapariga, vá lá, "muito dada" afirmou que queria um coração elástico; pensamento meu: não precisas de um coração elástico, precisas de um travão de tenazes.... nas pernas (é mau eu sei);
- . uma outra publicou um daqueles chichés de mau gosto do tipo a vida “ai é vida é boa... mas depois vem uma vaca e estraga tudo”; pensamento meu: certamente é bipolar ou sofre de perda de memória, porque ela já foi e é uma vaca, ou então mais cinicamente comentar: é pá tamos numas de verbalizar o que vês quando te olhas ao espelho;
- ai eu perco tudo o que é gorros e guarda-chuvas”; palavras minhas: podes usar luvas, porque nunca perdeste um anel.
Sei
que há mais, a passada semana foi particularmente profícua, mas como ainda não
criei o hábito de andar de caderninho (eu ando de caderninho, mas preciso de um Moleskine adequado ao efeito), agora que os queria partilhar, foram-se
(hão-de voltar.....).
Mas
das coisas boa, há que referir que regressei ao trabalho, e estou a gostar
muito.
Este
ano tenho que estar particularmente grata, porque pela primeira vez, estou a
trabalhar e venho para casa, e não há nada como beijar os filhos de manhã e à
noite. E pela primeira vez posso fazê-lo.
É
certo que saio de casa às 7.30 e só regresso cerca das 21H, mas mesmo assim é
melhor que passar dias sem os ver, e ter que dormir noutros sítios, que por
muito confortáveis que sejam, não são a minha casa.
Por
isso agradeço todos os dias esta mudança tão positiva.
Motivada
por esta mudança, é a minha crescente devoração de livros.
Como viajo de
comboio cerca de duas horas e meia por dia, aproveito para ler, e tem sido
excelente porque já li vários livros que estavam em espera.
E a
leitura acalma-me. Por momentos vivo seguramente uma vida que não é a minha,
viajo para sítios que não conheço e enriqueço-me com experiências contadas de
outras vidas, de outros amores, de outros lugares de outros cheiros. E sinto-me
mais rica, e ao mesmo tempo sinto que me falta tempo.
Tenho
36 anos e temo não ter tempo para ler tudo o que quero, e viver tudo o que
quero.
E
esta nova forma da minha vida, ainda que perfeitamente sincronizada, em tempo e
actividades, ainda que por vezes me faça sentir um ratinho na roda, é bem
melhor que qualquer outra.
Ter
o tempo e a mente sempre ocupados com actividades válidas e interessantes,
elimina todo e qualquer tempo gasto com o que não interessa ou com
pensamentos medíocres.
Há um ano atrás, eu estava verdadeiramente na
merda.
Hoje
sou outra pessoa, e acho sinceramente que sou melhor pessoa.
Mas
agradeço também o ano que passou.
Foi
fundamental para o que sou hoje. Limpei a minha vida. Fui quase ao fundo e
voltei.
Agora
quero preservar tudo o que tenho (fiquei apenas com o que é realmente
importante) quero lutar com unhas e dentes para resolver problemas antigos, e
sobretudo não perder a noção de mim que tenho agora.
De
que me basto assim, de que mesmo sendo uma vidinha, eu gosto desta vida. Gosto
de me deitar sossegada, de não sonhar, de não ter insónias, de não perder tempo
a ler sinais.
Gosto
desta tranquilidade, da segurança de saber que resolvi em mim todas as dores e
toda a raiva, e todo o azedume.
Hoje
já não tenho recados para dar (o que não significa que em tom de brincadeira me
lembre de alguns) não há nada para confrontar, porque simplesmente não quero
saber. Acabou e tirando uma ou outra provocação, já não sobra nada.
Aqui
admito o defeito. Acho que criei um modo de sobrevivência que consiste
essencialmente num reset parcial a curto prazo. Ou seja, a curto prazo apago da
memória tudo o que foi bom, mas deixo as coisas más presentes, apenas para me
lembrar de não voltar. Com o passar do tempo vou esquecendo também as más e
guardo apenas as muito más (questões de segurança), depois esquecerei tudo,
esquecerei até esse período da minha vida, até desconfiando se o vivi mesmo. E
um dia, no dia em que sentir que sarei volto a relembrar tudo, e sobretudo as
coisas boas, e mais que boas ou más, as que aprendi, as que me acrescentaram
algo, as que contribuíram para eu ser melhor. Nessa altura conseguirei olhar
para as más apenas como dores de crescimento, sem rancor, sem mágoa, apenas
como experiência, quem sabe até com compreensão.
Mas
isso demora o seu tempo... Who cares!?! Hoje eu voltei a ser como sempre fui,
acreditando que o melhor está sempre para vir, e enquanto não vem esse amanhã (e que nem sei sequer se chega) vamos lá aproveitar hoje da melhor maneira, da
mais serena, mais responsável e mais feliz.
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